São eles. Os dois traços debaixo de cada olho meu. Foi hoje que eu os encontrei. Ela me disse que eles já estão por aqui há muito tempo. Confesso que não percebi quando chegaram. Perguntei se ela tinha alguma culpa nisso. Acha que não.
Pensei em acusar então a gaveta que insiste em acumular tantas correspondências. Gavetas sempre são um problema. Quando não tentam guardar o passado, acumulam um futuro de preocupações. Sem contar as tantas muitas idéias que teimam e ficar só no papel.
Papel - meu eterno problema.. Seria ele a causa dos traços que meus olhos carregam? As letras que ele aguarda. Os números que guarda. As tantas palavras mal ditas que escaparam dessas idéias sem propósito e ali caíram sem brotar cem por um. Culpa do mau tempo?
Porque sempre nos disseram que pra plantar é preciso de lua boa, sol e chuva na hora certa e a melhor estação. E a gente vive mesmo à espera de uma estação onde possa esticar um bocado as canelas e zerar as gavetas. Mas o tempo não pára.
É isso. O suspeito maior de cada traço nos meus olhos é o tempo que insiste em não segurar seus segundos. Vem atropelando a vida e a gente como se tivesse pressa de chegar a lugar nenhum. O tempo, senhor das gavetas, dos papéis e plantações...
- Amor, fiquei velho e nem vi.
Ainda bem, ela disse, deve ser horrível ver ficar velho.
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