Sobre o tempo...
Já faz um tempo que o futuro está na moda. Vendem ele por aí como um tempo a que a gente deve se dedicar e empenhar a nossa vida e coisa e tal. Outras vozes, em menor número, retoricamente afirmam que o que vale mesmo é o presente, o agora, o hoje da vida. Que o futuro seja o que Deus quiser, e que o passado já passou e não volta mais.
Na contramão dessas idéias, venho eu. E talvez mais uma meia dúzia que afirma que o que vale mesmo na vida é o passado e que ele é praticamente tudo o que nós temos de fato e certo, concreto.
Verdade. Se eu escrevo este texto não é pelo prazer de digitar. Digitar é o presente dele. E seu futuro é incerto. O “pode ser” não “é”. E se não é, não existe. Pronto. O que resta ao que eu escrevo é só passado. Quando eu puser o ponto final, ele já vai ter sido. É passado e só então passa a existir de verdade.
Não que o presente não exista. Mas ele é só uma tênue linhazinha que mal cabe entre uma letra e outra. O que vai ser é só por um segundo e já era. E é esse já ser que dura, que marca, que fica eternamente gravado no tempo - que constrói o dia seguinte. O ato de viver, portanto, não passa de uma fábrica de passados, trabalhando em quatro turnos, sem intervalos nem férias.
Longe disso, uma apologia a arqueologias, historicismos, saudosismos e choraminguismos de “eu era feliz e não sabia”. Bom mesmo é ser feliz sabendo, certo de que se olhar pra trás tem alguma coisa que presta. O fato é que quem só olha o futuro tropeça, repete o mesmo trabalho várias vezes. Não aprende. Tudo é incerto. Quem só vê os agoras não vive, se despera. Quantos presentes aconteceram desde que comecei a escrever este texto? Prestei atenção em todos? Acho que não. Só quando viraram passados. Aí eu posso voltar, reler e dar valor ou não.
Está certo. A gente não precisa fazer a opção por um em detrimento do outro. Nem poderia. O que eu quero dizer é que não demora muito, ainda pequeno (nos doloridos oito anos?), a gente descobre que não vai durar muito por aqui, que é impossível pensar no futuro sem chegar no “ponto final” da vida. O dia em que já seremos passado. É por isso que eu acredito que o que a gente pode fazer é construir um bom passado. Um passado caprichado. Cheio de histórias pra contar e serem lembradas. A velha história, meio em desuso hoje, de plantar um livro, criar uma árvore e escrever um filho. É isso: o mundo é bom cheio de livros e árvores e filhos...
Ótimo!!!
ResponderExcluirPutz, o cara escreve um texto desses e não assina! Como saberemos o dono deste passado?
ResponderExcluirAh, num é possíve que não sabe que é meu o texto... Mas é passado mesmo. Foi escrito em 2006, mas agora ele é mais relevante...
ResponderExcluirEu sei. Mas eu não sou o único leitor do Atchim, né? Tem outros cinco...
ResponderExcluirrsrs, seis....
ResponderExcluirPorque não 7? rsrsrs!!
ResponderExcluirInteressante! Eu vivo intensamente meu presente... E sempre penso minhas alegrias vividas que em segundos realmente já pertencem ao passado assim... "Eu era feliz e sabia... " E as situações não tão boas são aprendizados pra eu não errar outra vez... E lá vem o futuro que algumas vezes eu tento planejar mas que no meu caso quase sempre acontece totalmente diferente.... Não sou muito eficiente nessa questão de planejamento... Haha! Sobre o ditado... Eu já plantei dezenas de árvores, tenho crônicas engavetadas e o desejo de escrever um livro e como mãe sou ótima dinda titia... E observo que no mundo as árvores são mais destruídas que plantadas, as pessoas estão lendo cada vez menos e casais com filhos são cada vez mais raros... Passado, presente, futuro... Uma vida pra viver, que seja com alegria que é pra valer a pena...
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