O outro lado...
Quarta, 12 de janeiro de 2011, 08h15 Atualizada às 11h54
Qual o seu preço?
José Pedro Goulart De Porto Alegre (RS)
(Foto:AFP)
Todo mundo tem um preço. O meu, aliás, é bem barato, algo num
raio de um metro e meio em torno do umbigo de alguém como a Scarlett Johansson, por exemplo, me compra com facilidade. Isso não quer
dizer que eu não tenha princípios, tenho. Mas esses custam mais caro.
A moeda de cada um varia. E digo mais, o sentido da vida está em
descobrir a sua: prestígio, poder, glória - não há doação, mas troca,
escambo. Vale para caridade, para arte, para política.
De alguma forma há lucro. Vendemo-nos o tempo todo.
Quem diz que não se vende por nada não ama ninguém.
Que pai ou mãe deixariam de entregar qualquer coisa,
até mesmo a honra, para salvar a vida de um filho?
A moeda que nos compra pode ser trágica, pode ser
oportunista; mas, atenção crianças, pode ser nobre.
Eis o meu ponto, dependendo das circunstâncias qualquer
um vende a alma, o corpo e até negocia a morte (se houver
a garantia de 72 virgens esperando do lado de lá, por exemplo).
Mas sim, acredito que se possa levar uma vida menos ordinária
escolhendo bem o balcão, e principalmente o diabo e a moeda
que nos compra.
Quando o lucro é "só" dinheiro, bem, aí o assunto é outro.
O dinheiro em si maquia o resultado, ou melhor, só vê o resultado -
um passo para mesquinhez. Um sujeito muito velho sovina e
endinheirado continua acumulando riqueza somente pelo
prazer de ficar empilhando números. (Talvez se pudesse trocaria
tudo o que tem por uma outra moeda, como uma nova juventude.
Mas o pior é que não pode.)
Foi por isso que acreditei que Ronaldinho iria jogar no Grêmio.
Os dirigentes reabriram as portas do Olímpico mesmo sabendo
que o jogador deu uma banana para o clube há dez anos.
Foram tentados, cobiçaram uma oportunidade. Numa situação
normal o time não teria condições financeiras para trazer um
Ronaldinho, mesmo com a carreira do sujeito minguando.
Mas o Grêmio achava que só ele tinha a moeda que iria comprar
o jogador. Qual moeda? "O perdão". Era isso que Ronaldinho e
sua turma ansiariam. De posse dessa moeda raríssima, o craque
poderia comprar o esquecimento, refazer a memória vil que deixou
para trás, ter passe livre na sua cidade natal. Grande acordo.
Mas os dirigentes estavam enganados, como se enganaram todos
os torcedores que se associaram no perdão para jogador.
Ronaldinho não estava atrás de reconciliações. A moeda que o
Grêmio queria era uma só: reconhecimento; talvez algum amor.
Mas a moeda do Ronaldinho continua a mesma,
a que sempre foi desde sempre.
Twitter: ZPgoulart
http://40anossemtitulo.com.br/
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