A Cara do Flamengo
Conversa de boteco tem mania de generalizar tudo. Por si só, qualquer generalização é meio burra, mas definir que uma ‘população’ de mais ou menos 35 milhões de pessoas tem uma cara só é mais que uma estupidez. Pra se ter uma idéia, a torcida do flamengo é quase do tamanho da população inteira da Argentina, que não é lá um país muito pequeno. Então, como dizer que a ‘cara do Flamengo’ é de barraco, quebra-pau e traficante?
Dentro desses 35 milhões de pessoas cabe muito tipo de gente. Gente boa e ruim. Pobre e rico. Preto e branco. Mocinho, bandido e todos aqueles que ficam no meio do caminho. Tem quem gosta de Brahma ou Antarctica. E até quem não gosta de futebol. Quem escuta o jogo pelo rádio. Quem recebe salário mínimo e paga 40 pau no ingresso! Quem assiste aos gols no dia seguinte. Quem paga o Pay per view e quem fila o pay per view na cara dura também.
Você pode dizer, ‘todo time é assim’. Só que o Flamengo é um ‘assim’ muito maior. Pra se ter uma idéia, um barraco com jogador do Flamengo vira as 4 notícias mais lidas entre as 5 notícias ‘esportivas’ do final de semana. Vira discussão em boteco. (E até me faz escrever uma crônica depois de mais de ano de hibernação.)
Então o Flamengo não tem cara? Tem, sim. Mas quem te coragem de dizer que a cara do Flamengo é só daquele time humilde que foi debochado pelo Liverpool antes do jogo e em 30 minutos já tinha feito 3 a 0, sem se lembrar do timinho salto-alto que entrou ‘classificado’ e tomou os mesmos 3 a 0 do Cabañas há 2 anos atrás? São duas caras do mesmo Flamengo, que é Céu e inferno da noite pro dia. Mesmo nos tempos de Zico. Veja os cartuns do Henfil da época. Veja as notícias do jornal hoje.
E aqueles que guardavam o discurso de que Flamengo era passado e nunca mais seria nada, tiveram que assistir o time falido, desorganizado e sem técnico de 500 mil ganhar o Hexa. E naquela forma de campeonato que só os times organizadinhos, com técnicos burocráticos poderiam ganhar. Isso é a cara do Flamengo! Mas quem vai ter coragem de dizer que não foi a cara do Flamengo escapar de todos os rebaixamentos que o assustaram durante quase toda a década?
Já disseram por aí: se fala o “Santos de Pelé”, mas não o “Flamengo de Zico”. Mas não porque o Zico é pequeno (Vide a homenagam da FIFA no último 3 de março, aniversário do Galinho), mas porque o Flamengo é muito grande. Claro que o Zico é a cara do Flamengo! Mas o meninão mimado do Adriano também, porque outra coisa que diferencia o Flamengo dos outros, além da proporção, é o fato de que, nele, filho feio também tem pai.
E o Rondinelli e Angelim são igualmente a cara do flamengo, sendo bem diferentes. E se você procurar, vai descobrir que até o Lê, que chorou depois de fazer um gol de título também é a cara do Flamengo. (Aliás, num precisa procurar muito não, clica aqui.)
E essa nação, além de grande e diversa desse jeito, tem o péssimo defeito de ser ‘patriota’ e vestir rubro-negro na segunda-feira ainda que sofra uma derrota no fim de semana. E de jogar tranquilamente pra fazer 4 a 0, mesmo depois de um barraco feio.
Afinal, barracos acontecem. O que num pode acontecer e neguim querer discursar no boteco, querendo que jogador de futebol seja exemplo de ética, moral e bons costumes. O campo é outro, meu chapa. Tá procurando no templo errado...
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